16 de dez. de 2009

A canga da CUT

Sai o pai Getúlio, entra o PT patrão: reforma sindical foi desenhada na medida para conferir poderes inéditos às duas principais centrais sindicais do país, em especial àquela que é a correia de transmissão do petismo e encarna, ao longo da história, nada além dos interesses do partido.


A subordinação da central ao petismo foi fundamental para garantir uma relativa paz ao primeiro ano do governo Lula. Mais do que o partido, conversão ao realismo de verdade foi a CUT que fez: justificou juros estratosféricos, conformou-se com um salário mínimo de R$ 240, justificou o superávit primário pantagruélico e apoiou a reforma da Previdência, contra a qual marchava sobre Brasília no governo FHC. No aumento do mínimo decidido no mês passado – os R$ 260 –, Luiz Marinho, o presidente, ensaiou algum protesto. Parecia, no entanto, mais entediado do que disposto à luta.

“Há uma perigosa supervalorização das centrais. O governo do PT parece ter trocado o discurso da denúncia do corporativismo getulista e do neoliberalismo das intenções do governo FHC por um novo corporativismo, o das centrais a tutelar os sindicatos”, resume o advogado trabalhista Sid Riedel de Figueiredo.

A boa lógica indica, pelo espírito de aparelhamento com que o governo Lula tudo mancha, que o que fortalece as centrais sindicais, na verdade, mais fortalece a CUT do que qualquer outra central. A proximidade com o poder pode desgastá-la junto à base de trabalhadores, mas a correia de transmissão se encarregará de fortalecer os seus líderes como porta-vozes e caciques de um poder de interlocução oficial que levará à concretização dos anseios políticos mais do que expressos. Afora esse direcionamento, todo o restante do listão de propostas do Fórum é um movimento no melhor estilo lampedusiano: muda tudo para que tudo fique como está.


(Primeira Leitura)

(Buteco.com, 19/07/2004)

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