BBC News - World Edition
A vida foge dos pequenos vilarejos russos
(por Damian Grammaticas)
"Desde o colapso da União Soviética, taxas de nascimento e expectativa de vida masculina têm sofrido consideráveis declínios. Os efeitos são particularmente visíveis nas áreas rurais, onde a população tem perecido ou migrado para as cidades.
Cinco horas pela estrada a nordeste de Moscou, pode-se ver a mudança ocorrendo na região de Kostroma, onde o problema do abandono dos vilarejos atingiu proporções epidêmicas.
Este é o antigo coração da Rússia. O Rio Volga corre através de uma região de colinas e florestas. Séculos atrás, os russos devastaram as florestas de Kostroma para estabelecer suas fazendas.
Aqui e ali estão os antigos vilarejos onde os fazendeiros construíram suas casas, construídas de toras de madeira extraídas da floresta. Muitos dos lugares são belíssimos, mas estão vazios e a vida os abandona.
Vasily Bykov é a última pessoa a viver no vilarejo de Isupovo. Todos foram embora. Ele é um homem velho, com um largo bigode. Está sozinho lá, mas não possui parentes e nem um lugar para ir.
Sob estas mudanças está o problema da redução dramática da população russa. Nos dez anos após 1992 a população da Rússia caiu de 149 milhões para 144 milhões, e o problema está ficando pior.
No final dos anos 1980 as taxas de nascimento começaram a cair e as taxas de mortalidade a subir. Os choques provocados pelo colapso da URSS levaram à pobreza e à crise econômica. Mulheres passaram a ter menos filhos, e as taxas de mortalidade, principalmente entre homens, aumentaram dramaticamente.
Alcoolismo e má dieta, aliados a doenças como tuberculose e uma crise no sistema de saúde, têm feito com que os russos morram cada vez mais cedo. Expectativa de vida do russo médio hoje é de cerca de 59 anos.
No vilarejo de Runovskoye, lavando suas roupas no lago, estava Tatiana. Ela viveu por lá durante a 2.ª Guerra, e em tempos de fome.
Para ela, os melhores momentos foram quando Leonid Brezhnev governava a URSS. Após este inverno, ela não crê que seu vilarejo irá sobreviver por muito tempo.
'Ninguém vai ficar por aqui, ninguém virá para cá, não há nada a fazer. Nós, os idosos, simplesmente vamos morrendo', diz Tatiana.
A vida reclusa nas florestas russas foi um modo de vida que durou séculos, mas que está se acabando. O resultado pode ser visto em Isupovo, onde Vasily Bykov é o último sobrevivente.
Todo um vilarejo reduzido a um homem e suas memórias. Logo nada mais restará."
http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/3984951.stm
(Buteco.com, 05/11/2004)
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