22 de dez. de 2009

Pioneiros


O curador da Wright Brothers Aeroplane Company e Museu dos Pioneiros da Aviação preparou uma longa resposta aos brasileiros que escrevem toda hora para dizer que não foram os Irmãos Wright mas Santos Dumont quem inventou o avião:

Antes de escrever este artigo, apresentei meus argumentos para um amigo que viveu muito tempo no Brasil e é apaixonado por sua cultura. Seu comentário: "Você apresentou sua posição com lógica clara mas não vai impressionar ninguém no Brasil." Os brasileiros, ele explica, têm sua própria forma de recontar a história. Santos Dumont, para um brasileiro, foi o primeiro a voar não porque ele voou primeiro mas porque, na mente de seus compatriotas, ele merecia ser o primeiro. Ele se expressava com mais paixão, tocava a vida com mais graça e voou com mais testemunhas que os tímidos, ermitões e um bocado discretos Irmãos Wright.

Um correspondente de Brasília, Brasil, me explicou de outra forma. Em 1937, o Brasil estava em meio à ditadura Vargas. Vargas instituiu um departamento em seu governo para "Informação e Propaganda". De acordo com esta fonte, "O DIP tinha a responsabilidade de publicar todos os livros escolares e mantinha uma linha clara de cantar as honras do Brasil e tudo que fosse brasileiro. A ditadura Vargas terminou em 1945 mas os livros escolares influenciados pelo DIP permaneceram. (Eu estudei em livros assim.) Os Irmãos Wright e outros pioneiros da aviação são raramente mencionados."

Como resultado desta doutrinação, a primazia aeronáutica de Santos Dumont transformou-se em parte do sistema de crenças de muitos brasileiros. Quando um norte-americano expressa a opinião de que os Irmãos Wright venceram Santos Dumont na corrida em vários anos, ele está atacando um item da crença cultural brasileira. O brasileiro reage com emoção, o norte-americano argumenta com provas objetivas, então ele fica sendo o ianque arrogante.

Sejam quais forem nossas diferenças neste assunto, gostaria que os brasileiros que me escrevem promovendo a causa de Santos Dumont o fariam sem achincalhar os Irmãos Wright. Colocando a história da aviação e crenças culturais de lado, é claro para mim que Santos Dumon tinha um coração generoso e um bocado de graça pessoal. Ao longo de sua vida, nunca tentou melhorar sua reputação passando por cima de ninguém. Se os seus defensores fazem isso, estão fazendo pouco da memória deste grande homem e aviador.


(Pedro Doria - "no minimo") 



(almanaq, 02/09/2005)

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