A Alemanha comemorou ontem, 09 de novembro, os 20 anos da queda do símbolo máximo da Guerra Fria: o Muro de Berlim.
Imaginem, para quem mora em São Paulo por exemplo, se o trânsito da Av. Paulista fosse de um dia para o outro bloqueado, e sobre o canteiro central da Consolação fosse construído um muro, com uma guarita, um ponto de checagem e guardas armados de metralhadoras. Se você mora na Zona Sul e tem parentes, digamos, em Pinheiros, não vai mais poder visitá-los, não vai poder mais nem falar com eles. Não há Internet, as emissoras de rádio são controladas pelo governo, as cartas são violadas. E se tentar cruzar a fronteira entre esses dois novos mundos, será fuzilado e deixado para morrer naquele lugar.
Os berlinenses conviveram com essa vida dividida por mais de 40 anos. Enquanto dirigentes da ex-Alemanha Oriental declaravam que o país tolerava diferenças, oposicionistas do regime eram encarcerados. As histórias de fuga dos berlinenses orientais chegam a ser bizarras. Um deles tentou escapar para o lado ocidental com um balão.
Na literatura, o conto de John Le Carré, "O Espião que Saiu do Frio", retrata de maneira soberba o clima da época.
As Ondas Curtas eram uma ferramenta ideológica importante para ambos os lados. Da parte dos ocidentais, as Rádios Liberty e Free Europe transmitiam para o setor oriental; do lado comunista, a Rádio Berlim fazia proselitismo anti-capitalista para os países da América Latina.
Na época eu era um ouvinte ativo das Ondas Curtas, e me correspondia com diversas rádios da Cortina de Ferro. Uma vez enviei uma carta à Rádio Albânia, e dias depois uns sujeitos do PCdoB bateram na minha porta, perguntando se eu queria me filiar; isso em 1989... Escrevi também à Rádio Berlim e recebi um farto material de propaganda. A peça mais bonita foi um calendário de 1990, o último ano de existência da DDR (Deusche Demokratische Republik, Alemanha Oriental), sobre as fontes de Berlim. Eu o mantenho até hoje na parede de meu quarto.
(gatt0s, 10/11/2009)